CONCEPÇÃO DE CENTRO ACADÊMICO E DE MOVIMENTO ESTUDANTIL
A chapa Canto Geral surge com a disposição de mudar a cultura política do Movimento Estudantil das Ciências Sociais. Para isso, formulamos, coletivamente, um programa político a ser debatido com o conjunto dos estudantes. Acreditamos que uma gestão do Centro Acadêmico deve ser baseada na formulação coletiva, apresentada e debatida democraticamente, visando ao
fortalecimento da entidade. Acreditamos que, somente com a disposição firme em expandir o debate a todos os estudantes, o Movimento Estudantil poderá oferecer-se como alternativa de construção coletiva.
O CEUPES deve estar presente no cotidiano do curso, sendo uma ferramenta de organização dos estudantes que devem reconhecer a entidade como espaço de participação, representação e aglutinação em torno das pautas que se relacionam com seu cotidiano. O Centro Acadêmico deve promover atividades que aproximem os estudantes e ser um espaço plural, que busque a superação da falsa dicotomia que temos assistido entre estudantes “ativistas” e estudantes das salas de aula. Por seu caráter transitório, o Movimento Estudantil necessita de uma entidade representativa e consolidada.
Além de impulsionar a construção de referência num Movimento Estudantil amplo e democrático, o CEUPES deve representar os estudantes de Ciências Sociais no debate com outros setores com que nos relacionamos – desde outras entidades estudantis e, até mesmo, os departamentos, a diretoria e a reitoria.
É fundamental que o Movimento Estudantil tenha a disposição em estabelecer diálogo com o conjunto de estudantes, buscando atingir sua realidade mais próxima, suas pautas e demandas. A luta prioritária que o M.E. deve travar é pela defesa da educação pública e de qualidade, que seja democrática em seu acesso e que garanta uma formação crítica. Só assim alcançaremos um avanço de consciência capaz de imprimir transformações.
Nós, da chapa Canto Geral, consideramos prioritária a luta contra a lógica presente na precarização da Universidade e no individualismo. Assume, portanto, importância capital, o estímulo à participação ampla e a disposição cotidiana de um Movimento Estudantil que assuma a defesa da construção coletiva. Nós, da chapa Canto Geral, queremos um Centro Acadêmico representativo, que seja o lugar do debate horizontal e democrático. Queremos consolidar uma entidade que esteja presente no cotidiano dos estudantes.
UNIVERSIDADE E EDUCAÇÃO
Temos assistido, nas últimas décadas, a um processo de diminuição dos investimentos públicos na educação e, conseqüentemente, na Universidade. Ao mesmo tempo, a iniciativa privada busca explorar lucrativamente o setor em detrimento de um ensino crítico que responda às necessidades da população. Isso se reflete num processo de precarização da educação.
Nesse contexto, ganhou impulso a atuação das fundações privadas, que, travestidas como instituições de apoio à universidade sem fins lucrativos, são, na verdade, empresas que se utilizam da estrutura, dos professores e da “marca USP” para obter seus ganhos. Além do uso oportunista de recursos públicos, desenvolve-se uma rede de relações promíscuas entre a burocracia acadêmica e as fundações. Como conseqüência, professores – que deveriam dedicar-se integralmente às atividades de ensino, pesquisa e extensão na Universidade – desviam suas atividades para a produção ligada às Fundações em troca de complementos salariais. O Movimento Estudantil deve combater essa lógica, voltando-se contra as Fundações e a estrutura de poder vertical que a USP possui.
O processo de sucateamento da Educação torna-se evidente quando pensamos o recente projeto de Ensino à Distância. A Univesp (Universidade Virtual do Estado de São Paulo) é um programa do Governo do Estado que pretende ampliar, virtualmente, as vagas do ensino superior. É preciso esclarecer, porém, que se trata de uma política paliativa por trás de uma suposta democratização do ensino. Aulas virtuais já são comuns na rede privada de ensino, por exemplo, e verifica-se que o aprendizado é prejudicado pela distância professor-aluno. As aulas são apresentações multimídia preparadas previamente pelos professores e, assim, os alunos tornam-se meros observadores: não participam da discussão profunda do conteúdo, seja entre si ou com os professores. A Univesp é, em um primeiro momento, destinada às Licenciaturas. Justamente por assumir a grande falha do Ensino Público - o baixo preparo dos professores - é que este projeto vem à sociedade como suposta forma de ampliar vagas e formar novos professores. No fundo, há uma preocupação do governo em aparentar uma melhora nas estatísticas com o intuito, por exemplo, de atrair investimentos para o Estado.
A chapa Canto Geral defende a indissociabilidade do tripé ensino, pesquisa e extensão. Na esfera do ensino, seguindo a política de sucateamento do ensino público, tem-se visto uma dissolução da relação entre professor e aluno graças à distância gerada por salas cada vez mais cheias. Entendemos, também, que a natureza do financiamento determina o caráter das pesquisas realizadas na Universidade. Deste modo, defendemos o financiamento público das pesquisas e a prioridade das demandas da sociedade em detrimento da lógica de mercado. A extensão, por sua vez, converte-se em via expressa de acesso do mercado à universidade por meio de fundações, empresas juniores (que muitas vezes funcionam como uma “fundação” estudantil), cursos pagos ou a figura do assistencialismo. Nós defendemos projetos de extensão que estimulem a produção científica e intelectual dos estudantes atrelada à transformação efetiva da sociedade e, por isso, consideramos fundamental o debate sobre extensão universitária em nosso curso.
Com os desdobramentos que a crise econômica atual trará, veremos, uma vez mais, virem à tona os problemas relacionados ao financiamento da Universidade. Consideramos fundamental que o Movimento Estudantil promova, de fato, o combate à precarização da educação pública. Deve-se fazê-lo através do debate amplo, democrático e transparente, que busque, de fato, uma construção coletiva de nossas pautas.
Espaços & Cultura
A discussão sobre ESPAÇOS é pauta freqüente no Movimento Estudantil. Para nós, da chapa Canto Geral, é importante o amadurecimento do discurso e da luta por espaços que contemple a necessidade de ser público e que seja gerido pelos estudantes, por meio de suas entidades, sem intervenções autoritárias. A questão dos espaços proporcionou o debate mais acalorado no prédio do meio em 2008. As discussões têm sido feitas tanto entre os próprios estudantes, quanto entre os setores com poder de mando da FFLCH. Evidentemente, ambos os setores têm interesses e planos próprios para a questão, especialmente quando se trata do Espaço Estudantil. Este talvez tenha sido a conquista mais importante do Movimento Estudantil de nosso prédio em tempos anteriores e vem sofrendo ataques, por parte da diretoria, e abusos por parte de grupos inconseqüentes, que fazem mau uso dele e não se responsabilizam pelos efeitos das suas ações. Isso acaba afastando os próprios estudantes, que, em sua maioria, não têm interesse em freqüentá-lo.
Efeito similar é causado pelo precário estado de conservação do local, fortalecendo o argumento da direção da faculdade de que ele deveria ser usado para outros fins e não como um “simples” local de convivência estudantil. Entretanto, não podemos nos esquecer nem restringir tal discussão, uma vez que é necessária a garantia da circulação, da vivência, do debate político e do intercâmbio de idéias incluindo estudantes, professores, funcionários e a comunidade externa. Fica clara, portanto, a necessidade de um projeto de ocupação efetiva do Espaço Estudantil que supere toda a sua degradação atual e o oportunismo de grupos descompromissados com a construção coletiva e democrática. Este projeto deve ter como principais finalidades desenvolver propostas culturais e políticas, preferencialmente relacionadas ao nosso cotidiano e às nossas necessidades enquanto estudantes, revertendo os recursos angariados para a manutenção física do local pelas entidades. O desenvolvimento de atividades culturais é uma prioridade da nossa chapa, pois se apresenta como uma demanda concreta no âmbito estudantil. Elas são uma maneira de integrar os estudantes do prédio, bem como de dialogar com a comunidade externa. É nossa intenção proporcionar meios para que tal articulação se expresse, podendo, desta forma, dar continuidade a um processo de intercâmbio cultural. Este movimento tem de ser dinâmico e multilateral para que seja respeitada a própria característica de sua formação.
Em relação aos espaços, nós, da chapa Canto Geral, não nos restringiremos àquele delimitado como o Espaço Estudantil, buscaremos contemplar o espaço como um todo, ou seja, focaremos o prédio do meio na sua amplitude e lutaremos, em última instância, pela consolidação de um espaço de qualidade, com manutenção das salas de aula, de espaços exteriores e a implementação de projetos que garantam maior acessibilidade. Por isso, defendemos a reativação da Comissão de Segurança e Qualidade de Vida com caráter deliberativo.
O Papel e a Formação do Cientista Social
Ao fazer a análise do papel do cientista social, surge a necessidade de compreender o ensino como um todo. Sendo pautada pelo arranjo econômico-social de uma época, a educação é determinada de modo a responder às necessidades da organização da sociedade como está dada. Aquele que opta pelo estudo das Ciências Sociais visa aprofundar-se na ciência “que tem por objeto estudar a
interação social dos seres vivos nos diferentes níveis de organização da vida”. Esta é a ampla definição de Florestan Fernandes acerca do que seria a Sociologia. Entretanto, focando esta definição no “homem”, nota-se que o cientista social tem como objetivo estudar a interação entre os homens, sendo ao mesmo tempo nada mais que um “homem”. E é por este motivo que o mesmo Florestan Fernandes diz que “para o cientista social, não há neutralidade possível”. O objeto das Ciências Sociais é o homem em associação com seu semelhante. Desta forma, para o cientista social, não há como fugir da condição de objeto incondicional de seu estudo.
Durante os dois primeiros anos, somos apresentados à Antropologia, à Sociologia e à Ciência Política pelos seus respectivos departamentos. São três perspectivas de compreensão da realidade que devem ser equilibradas por nós estudantes e que, desta forma, acabam por delinear a formação individual de cada um de acordo com as escolhas feitas durante todo o processo acadêmico. Para nós, o Centro Acadêmico tem de estar, juntamente com todos os estudantes de Ciências Sociais, na linha de frente da defesa de um currículo que esteja em compasso com a realidade brasileira. Assim, acreditamos que a própria formação do cientista social deve trazer, a partir da crítica e da reflexão, o germe da modificação da realidade político-social brasileira. A luta pelo aumento do caráter crítico de nossa formação só será possível se o debate de forma e conteúdo do conhecimento trabalhado em sala de aula chegar até os estudantes. Como gestão do CEUPES, nós, da chapa Canto Geral, estaremos dispostos a trazer este debate para os fóruns do Movimento Estudantil, de modo a retirar a exclusividade de discussão dos departamentos e colocá-la entre os estudantes. A luta junto às instancias burocráticas da faculdade será tocada. Isto não nos impede, contudo, de tomar a iniciativa, trazendo fatores que consideramos imprescindíveis para a formação crítica do cientista social e para o dia-a-dia dos estudantes. Desta forma, visamos à complementação da formação da sala de aula com debates e palestras que supram estas demandas e estimulem o uso de toda a teoria aprendida em sala de aula para refletir a realidade presente.
O Centro Acadêmico não pode ausentar-se desta discussão, tendo o dever de estimular a reflexão, a crítica e a formulação acerca do papel do mercado de trabalho na produção do cientista social e, inversamente, o papel do cientista social dentro do mercado e da sociedade. Um C.A. realmente representativo deve levar em conta essa situação, trabalhando com a perspectiva de levar a todos à reflexão sobre nossas condições de trabalho, criando mecanismos de representação organizada, formulação e conquista das nossas reivindicações. A chapa Canto Geral se coloca contra formas privadas e que visem ao lucro de intercâmbio com a sociedade. Queremos estimular o debate sobre extensão e impulsionar a constituição de um Escritório Piloto de Extensão Universitária nas Ciências Sociais. A possibilidade de atuação do cientista social não se restringe àquilo que está disponível no mercado. Questões de gênero, de cor e de classe merecem o olhar atento dos que estudam a sociedade.
Assim, as ciências que estudamos encontram possibilidade de deixar de ser exclusividade acadêmica e ir ao encontro da população. Compreendemos que não basta discutir todas as questões de forma e conteúdo de nosso conhecimento pensando apenas para dentro da academia. Se temos a necessidade de discutir o nosso próprio currículo, temos a responsabilidade de refletir como queremos que seja o contato da juventude e da população de modo geral com as Ciências Sociais.
A lei que tornou obrigatório o ensino de Sociologia no Ensino Médio não garante uma formação crítica. Tanto a condição de trabalho dos professores de Sociologia quanto o conteúdo apresentado em sala de aula merecem atenção de nossa parte. Estamos dispostos a trabalhar, desde o início, para a construção de disciplinas que contribuam para o fortalecimento da democracia em nosso país, explorando o potencial critico da Sociologia.
Entendemos que há um momento oportuno para a colocação deste debate. A Secretaria de Educação do Estado de São Paulo acaba de aprovar o currículo-base do ensino de Sociologia no Ensino Médio. Diante do que foi colocado, não nos ausentaremos desta discussão. Para isso, colocaremos esta pauta de forma intensa durante o ano e nos propomos a construir uma Semana de Sociologia no Ensino Médio.
PROPOSTAS
_Construção de fóruns democráticos, construídos amplamente e de acordo com as pautas do Movimento Estudantil e das necessidades dos estudantes;
_Manter na ordem do dia o debate sobre estrutura de poder, impulsionando, num ano de eleições na USP, uma campanha por eleições diretas para Reitor;
_Impulsionar, desde o primeiro momento, o debate sobre meio-ambiente no curso, mantendo e ampliando um Grupo de Trabalho sobre Meio-Ambiente;
_Busca de articulação com o Centro Acadêmico de Filosofia para a construção conjunta de atividades, além da articulação com outros CAs da FFLCH e com o DCE da USP;
_ Fomentar o debate sobre extensão no curso e impulsionar a construção de um Escritório Piloto
_Construção de uma Semana de Sociologia no Ensino Médio;
_Compromisso de manutenção da Semana de Ciências Sociais (SeCS) construída democraticamente pelos estudantes.
Plano de Ocupação do Espaço e Cultura:
_Criação de uma Comissão de Cultura do Prédio do Meio, em conjunto com os estudantes da Filosofia, reunida quinzenalmente para pensar e realizar atividades culturais conjuntas;
_Manutenção e ampliação da DVDteca do CEUPES;
_Atividades lúdico-esportivas que promovam a integração dos estudantes, como festas, campeonatos (xadrez, sinuca...), aulas públicas de yoga, capoeira, oficinas de fotografia e apresentações de teatro;
_Arrecadação de doações para revitalizar o Espaço Estudantil com mobília, cinzeiros, lixos, além da realização de mutirões de limpeza pelos estudantes;
_Ciclo de filmes e debates;
_Busca da reativação da Comissão de Segurança e Qualidade de Vida;
_Café com o CEUPES – Rodas de discussão com Movimentos Sociais e com estudantes que queiram apresentar e discutir seus trabalhos de Iniciação Científica, Mestrado e Doutorado;
_Debate sobre opressões e núcleo de mulheres.
Política de divulgação:
_Manter uma política de divulgação de atividades efetivas, mantendo um blog do CEUPES atualizado;
_Construção de um Jornal do CEUPES em que os estudantes possam divulgar seus textos, desenhos e charges.